Nas Asas da Panair

A PIONEIRA: do glamour à agonia em 79 anos de história.

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Por CARLOS ACIR CHASSOT

Capítulo 16

A falência da PANAIR DO BRASIL

A PANAIR DO BRASIL foi, a seu tempo, a mais amada empresa aérea brasileira. Famosa, charmosa, poderosa, consagrou-se por expressões que ficaram imortalizadas em nossa memória: “padrão Panair”, pela excelência técnica-operacional de seus serviços; “família Panair”; e a mais famosa delas, “Nas Asas da Panair”, canção imortalizada por Elis Regina e Milton Nascimento.

No entanto, nada disso lhe valeu. Seu vergonhoso fechamento, em 10 de fevereiro de 1965, deu-se por um decreto do governo militar assinado pelo então Presidente da República, Marechal Humberto de Alencar Castello Branco.

Por volta das dezessete horas daquela tarde de quarta-feira, no Rio de Janeiro, em sua ampla sala envidraçada, com vista privilegiada para a praça Marechal Âncora, ao lado do Aeroporto Santos Dumont, Paulo de Oliveira Sampaio, presidente da companhia, despachava normalmente quando recebeu, das mãos de dona Leonor, sua secretária, o seguinte telegrama, assinado pelo Brigadeiro Eduardo Gomes, Ministro da Aeronáutica:

“Por determinação do Exmo. Sr. Presidente da República exarada na Exposição de Motivos Nº 26, de 10 de fevereiro de 1965, ficam, a partir desta data, suspensas as concessões de linhas nacionais e internacionais outorgadas à Panair do Brasil S.A., a título precário, sendo estas últimas concedidas, nesta data, à VARIG, também a título precário.”

Iniciava-se então, talvez, o capítulo mais obscuro da história da VARIG e a página mais vergonhosa já escrita da aviação comercial brasileira. A empresa, criada pela PAN AM e depois vendida para empresários brasileiros, gozava de grande prestígio entre os passageiros, mas estava em decadência nos anos 60. Os laços de seus proprietários, Celso da Rocha Miranda e Mário Wallace Simonsen, com o ex-presidente Juscelino Kubitschek, eram mal vistos pelo governo militar. Por outro lado, a PANAIR tinha, como principais destinos, a Europa e algumas capitais sul-americanas que interessavam à VARIG e a CRUZEIRO DO SUL. Numa manobra polêmica, as duas empresas influenciaram o governo a decretar a falência da PANAIR para assumir as suas rotas. A situação foi tão inusitada que, poucas horas após o anúncio do seu fechamento, a VARIG já estava operando as linhas da ex concorrente.

Naquela mesma noite do dia 10 de fevereiro, os funcionários da PANAIR, no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, finalizavam os preparativos para o embarque do voo PB 22, que partiria às 22h30 com destino à Frankfurt com escalas em Recife, Lisboa e Paris. Os sessenta e dois passageiros já haviam, inclusive, realizado o check-in e estavam com os seus cartões de embarque, prontos para embarcar no DC 8, prefixo PP-PDS. Foi nesse mesmo avião aliás, já com as cores da VARIG, que realizei minha primeira viagem internacional, em 30 de outubro de 1973, no voo RG 872 do Rio de Janeiro para a Cidade do México, com escala em Bogotá.

O funcionário da PANAIR no balcão da empresa no Galeão fora, então, informado pelo diretor-geral do aeroporto, acompanhado por um diretor do DAC e por Ruben Berta, presidente da VARIG, que as concessões da PANAIR estavam sendo canceladas e que, por orientação da diretoria da companhia aérea, os passageiros deveriam ser embarcados na VARIG, que iria realizar o voo PB 22 naquela noite.

O funcionário, desorientado, caminhou alguns passos em direção ao balcão da VARIG e forneceu, aos funcionários da empresa, a lista de passageiros do PB 22. Ruben Berta acompanhou, de perto, a transferência dos passageiros para a sua empresa. Todos no Galeão, naquela noite, puderam ver, ao lado do Douglas DC 8 da PANAIR, o Boeing 707 da VARIG, prefixo PP-VJA, pronto para decolar.

Como a empresa aérea concorrente, pensou o funcionário da PANAIR, teria condições de assumir aquele voo de improviso? Naquele momento, chegavam ao Galeão os experientes comandantes da VARIG, Antonio José Schittini Pinto que, anos depois viria a se tornar Diretor de Ensino da pioneira e das mãos de quem recebi, em dezembro de 1971, o diploma e a medalha por ter me formado em primeiro lugar na turma H da ESVAR de São Paulo, e o também experiente comandante Ely do Amaral Vasconcelos. Realizariam, ambos, o primeiro voo da VARIG para a Europa.

A noite daquele 10 de fevereiro já se transformara em madrugada e os passageiros, que já deveriam ter embarcado no DC 8 da PANAIR, dormiam em poltronas no saguão do Galeão, à espera de informações, quando o avião fora recolhido a um dos hangares da companhia. Somente às 02h30 fora anunciado o embarque pela VARIG. O dia 11 de fevereiro de 1965 iniciava-se, escrevendo um dos mais tristes capítulos da história da aviação comercial brasileira.

A partir do anúncio para embarque no voo da VARIG, funcionários da PANAIR e repórteres se dirigiram ao deck de observação do Galeão para acompanharem, atônitos, o embarque dos passageiros no 707 da VARIG. Finalmente, assistiram ao lento táxi pela pista, e o momento em que o Boeing deixou a pista e desapareceu na escuridão.

Era a primeira vez, na história da aviação comercial brasileira, que um avião, de outra bandeira que não a verde da PANAIR DO BRASIL, saía do Brasil para o continente europeu. Naquele voo estavam a bordo, Erick Oswaldo Kastrup de Carvalho, ex-funcionário da PANAIR até 1955, quando ingressou na companhia aérea gaúcha, como vice-presidente, a convite de Ruben Berta. Ele estava acompanhado, também, de alguns oficiais do DAC.

No dia 15 de fevereiro de 1965, cinco dias depois da cassação de concessões das linhas nacionais e internacionais da PANAIR, o juiz Mário Rebelo de Mendonça Filho, da 6ª Vara Cível do Tribunal de Justiça da Guanabara, indeferiu o pedido de concordata preventivo, apresentado pelos advogados da PANAIR. Decretou, ainda, a falência judicial da empresa.

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Uma resposta para Nas Asas da Panair

  1. Nelson Dantas disse:

    Essa narrativa não está embasado em evidências, mas na vontade de se colocar a VArig no banco de réus num momento em que existe a possibilidade dela ser vítima de ação do governo.

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